O Brasil, tradicionalmente associado a eventos climáticos como chuvas intensas e secas prolongadas, tem enfrentado nos últimos anos um aumento alarmante na ocorrência de tornados. Em 2025, o país registra um marco preocupante: 88 casos confirmados até o início de novembro, equiparando-se ao recorde de 2023 e com potencial para superá-lo até o fim do ano. Esse crescimento não é mero acaso, mas reflete uma combinação de fatores atmosféricos sazonais e os impactos das mudanças climáticas, que amplificam a frequência e a intensidade desses fenômenos. Neste artigo, exploramos as previsões para o restante de 2025, as regiões mais vulneráveis e as lições extraídas de eventos recentes.
Um Panorama de Aumento: Dados e Tendências
De acordo com especialistas consultados pelo Fantástico, da TV Globo, o número de tornados no Brasil saltou de 55 registros em 2021 para os atuais 88 em 2025, um incremento de mais de 60% em apenas quatro anos. Esse dado, coletado por meio de monitoramento meteorológico avançado, inclui desde trombas-d’água leves até eventos destrutivos classificados na Escala Fujita (EF) como significativos. A primavera brasileira (setembro a novembro), período de transição térmica que favorece a formação de tempestades supercelulares, tem sido o epicentro dessa escalada, com condições de alta umidade e contrastes de temperatura propícios à rotação de ar em colunas verticais.
Registros históricos, como os compilados na Wikipédia, apontam para uma dispersão geográfica, mas com predominância no Centro-Sul. Exemplos incluem um tornado supercelular em Formosa do Rio Preto (GO) em janeiro, uma tromba-d’água em Aracruz (ES) em abril e outro evento em Três Marias (MG) no mesmo mês, todos com intensidades F0 ou desconhecidas (FU) e impactos mínimos em áreas inabitadas. No entanto, esses casos isolados palidecem ante os “outbreaks” recentes: em 7 de novembro, pelo menos oito tornados foram confirmados no Paraná e Santa Catarina, quatro deles EF2 ou superior, culminando no devastador furacão em Rio Bonito do Iguaçu (PR), que arrasou 90% da infraestrutura local, feriu 750 pessoas e causou seis mortes.
Regiões em Alerta: O Sul como Epicentro de Riscos
A região Sul concentra o maior risco, abarcando o sul do Mato Grosso do Sul, partes de São Paulo, o meio-oeste paranaense, o oeste catarinense e o Rio Grande do Sul. Essa faixa, conhecida como “Corredor de Tempestades”, é particularmente suscetível devido à interação entre massas de ar quente úmido do Norte e frias do Sul, gerando cisalhamento de vento ideal para tornados. Em novembro de 2025, alertas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam a formação de pelo menos três ciclones extratropicais no Rio Grande do Sul, com potencial para gerar mais eventos severos até dezembro.
Previsões para o fim de 2025 apontam para uma continuidade dessa tendência: tempestades severas e ciclones serão frequentes nas próximas semanas, afetando o norte do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e interior do Nordeste. Meteorologistas como Eugênio Greghi, da Somar Meteorologia, enfatizam que o aquecimento global agrava esses padrões, com um aumento na energia atmosférica que “carrega” as tempestades com mais umidade e calor, elevando a probabilidade de tornados EF2+ em até 20% em relação a décadas anteriores.
Mudanças Climáticas: O Combustível Invisível
As alterações no clima global não são apenas um pano de fundo; elas são o catalisador principal. O acúmulo de gases de efeito estufa, proveniente da queima de combustíveis fósseis, eleva as temperaturas oceânicas e atmosféricas, injetando mais umidade no ar – o “combustível” essencial para tornados. Como explica a Agência Brasil, isso intensifica as diferenças de pressão entre massas de ar, tornando os eventos mais rápidos e imprevisíveis. No caso brasileiro, o aquecimento da Amazônia e do Atlântico Sul contribui para uma atmosfera mais instável, dificultando previsões com antecedência superior a poucas horas.
Estudos recentes, apresentados em eventos como o ocorrido no Paraná em novembro, servem como alerta: sem mitigação, a frequência de tornados pode dobrar até 2050, com intensidades médias subindo de EF1 para EF2 em regiões vulneráveis. O tornado de Rio Bonito do Iguaçu exemplifica isso: previsto com horas de antecedência, mas subestimado, ele destaca a urgência de sistemas de alerta integrados.
Previsões para o Fechamento de 2025: Riscos e Preparação
Para dezembro de 2025, modelos meteorológicos do Inmet e do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) indicam um risco moderado a alto de mais cinco a dez eventos no Sul e Centro-Oeste, impulsionados por um La Niña fraco que favorece frentes frias intensas. No entanto, a variabilidade climática torna essas estimativas conservadoras; um “outbreak” similar ao de novembro não está descartado, especialmente com a proximidade do verão, que traz mais umidade.
Especialistas recomendam ações concretas: investimento em radares Doppler para monitoramento em tempo real, já viável com tecnologia atual; adoção de normas de construção resistentes a ventos de até 200 km/h em edifícios públicos; e campanhas de educação pública para abrigos durante alertas. Simulações em túneis de vento, como as realizadas em universidades, podem guiar políticas urbanas mais resilientes.
Conclusão: De Reação a Prevenção
O ano de 2025 marca um ponto de inflexão para os tornados no Brasil: de fenômenos raros a ameaças recorrentes, impulsionados por um clima em transformação. Com 88 casos até agora e previsões de continuidade, o país precisa transcender reações emergenciais para uma estratégia proativa. Governos, cientistas e comunidades devem unir forças para mitigar riscos – não apenas salvando vidas, mas preservando o tecido social e econômico de regiões já castigadas. Como bem alertam os pesquisadores, o tempo de ignorar as previsões acabou; agora, é hora de agir com a mesma velocidade dos ventos que nos desafiam.
