A usina que tem gerado manchetes mundiais e preocupação constante não é Chernobyl (embora esta também exija cuidados), mas sim a Usina Nuclear de Zaporizhzhia (ZNPP). É a maior central nuclear da Europa e está no centro de uma crise de segurança sem precedentes desde que foi ocupada por forças russas no início da invasão.
Quando você pergunta “o que mexeram nela”, a resposta envolve uma série de intervenções militares e técnicas que colocaram o local em risco crítico. Aqui está o dossiê completo.
1. O que foi feito na usina (“A Mexida”)?
A usina não foi apenas “tomada”; ela foi transformada em um escudo militar e teve sua operação técnica alterada.
- Ocupação e Militarização: Desde março de 2022, a Rússia controla fisicamente a usina. O local foi transformado em uma base militar, com relatos de veículos de combate, explosivos e tropas posicionadas dentro do perímetro e até nas salas de turbinas. Isso viola todos os protocolos de segurança nuclear, pois transforma a usina em um alvo e uma plataforma de tiro.
- Troca de Comando e Pressão: Embora a tecnologia seja soviética/ucraniana, a gestão foi forçada a passar para a Rosatom (estatal nuclear russa). Os funcionários ucranianos originais sofreram pressão psicológica imensa, detenções e fadiga crônica, o que aumenta drasticamente o risco de erro humano.
- Tentativa de Desvio de Energia: Houve tentativas documentadas de desconectar a usina da rede elétrica ucraniana para conectá-la à rede russa (via Crimeia). Essa manobra técnica é complexa e perigosa, pois exige o desligamento temporário de linhas de segurança.
- Planos de Reinício (2025): Notícias recentes indicam que a administração russa planeja reativar alguns reatores (especificamente as unidades 2 e 6) para gerar energia, apesar dos avisos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de que isso é extremamente perigoso em uma zona de guerra ativa.
2. Eventos Críticos Recentes (Cenário 2024-2025)
A situação deteriorou-se ao longo de 2025, com incidentes que quase levaram a um desastre:
- Ataques de Drones e Incêndios (Ago/2025): A usina foi alvo de ataques diretos de drones. Em agosto de 2025, um incêndio significativo atingiu uma das torres de resfriamento e transformadores, com ambos os lados (Rússia e Ucrânia) trocando acusações sobre a autoria.
- Apagões Totais (Blackouts): A usina precisa de eletricidade externa para manter o resfriamento dos reatores (mesmo desligados). Em outubro de 2025, a usina sofreu um de seus “blackouts” mais longos, ficando um mês inteiro dependendo apenas de geradores a diesel de emergência. Se esses geradores falharem ou ficarem sem combustível, o resfriamento para e o núcleo pode derreter.
- Danos à Barragem Kakhovka: A destruição da barragem anteriormente (em 2023) reduziu o nível do reservatório que fornece água para resfriar a usina. Embora soluções de engenharia tenham sido improvisadas (poços, lagoas), a margem de segurança hídrica é muito menor hoje do que era antes.
3. Por que isso é tão perigoso?
Diferente de uma bomba atômica que explode intencionalmente, o risco aqui é um acidente nuclear por falha de resfriamento (similar ao que houve em Fukushima), mas causado pela guerra.
| Risco | Descrição |
|---|---|
| Meltdown (Derretimento) | Se a energia acabar e os geradores falharem, o combustível nuclear superaquece e derrete, liberando radiação massiva. |
| Erro Humano | Operadores exaustos e sob a mira de armas podem cometer erros fatais em procedimentos complexos. |
| Danos à Contenção | Bombardeios acidentais podem romper os prédios de concreto que protegem os reatores ou os depósitos de lixo nuclear (combustível gasto) que ficam a céu aberto no local. |
4. E a usina de Kursk? (A Confusão Comum)
É importante notar que, recentemente (agosto de 2025), houve notícias sobre a Ucrânia atacando a Usina Nuclear de Kursk.
- Atenção: Esta usina fica dentro da Rússia, não na Ucrânia.
- Durante a incursão ucraniana na região de Kursk, houve combates próximos a essa usina russa, o que também gerou alerta internacional. É possível que as notícias tenham se misturado, mas a usina que está ocupada e sendo modificada há anos é a de Zaporizhzhia.
Resumo da Situação Hoje (Dezembro 2025)
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), liderada por Rafael Grossi, mantém inspetores no local, mas descreve a situação como “extremamente precária”.
- Status dos Reatores: A maioria está em “desligamento frio” (estado mais seguro), mas a gestão russa tenta reativar unidades.
- Segurança: A zona não foi desmilitarizada.
- Conclusão: A usina é hoje um “refém nuclear”. O mundo observa com tensão, pois qualquer erro de cálculo militar ou falha técnica na rede elétrica pode transformar a usina de uma fonte de energia em uma fonte de contaminação radioativa para todo o continente europeu.
