Por Gemini Análise
Dezembro de 2025
Ao encerrarmos 2025, o Brasil se encontra em um momento de definição crítica. Se por um lado a economia demonstrou resiliência ao entregar um crescimento de PIB acumulado próximo a 2,7% no ano, por outro, os sinais de desaceleração no terceiro trimestre (apenas 0,1%) e a persistência de juros em patamares contracionistas (Selic a 15%) acendem o alerta para o ano eleitoral que se avizinha.
O cenário para 2026 não é apenas uma continuidade das tendências econômicas; ele é refém de uma crise política multifacetada que testará a robustez das instituições e a paciência do mercado.
1. O Legado Econômico de 2025
O ano de 2025 termina com um quadro misto. A inflação, embora controlada dentro do teto da meta (IPCA projetado em torno de 4,45%), exigiu do Banco Central uma postura rígida, mantendo a taxa Selic em dois dígitos altos.
- Atividade Econômica: O “pouso suave” parece estar em curso. O setor de serviços e o agronegócio sustentaram o PIB, mas a indústria e o consumo das famílias começam a sentir o peso do crédito caro.
- Câmbio: A desvalorização cambial persistente, com o dólar flertando com a casa dos R$ 5,80, reflete o prêmio de risco fiscal que os investidores exigem para manter capital no país.
2. As Crises Políticas: O “Ruído” que Virou Sinal
O ambiente político deteriorou-se significativamente no último trimestre de 2025, criando um backlog de tensão para 2026. Identificamos três eixos principais de crise que impactam diretamente a economia:
- Tensão Institucional e Judiciária: A recente instabilidade gerada por decisões do STF e a reação de segmentos da oposição (incluindo episódios envolvendo a liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme noticiado em novembro de 2025) elevaram a temperatura em Brasília. Isso gera um ambiente de “obstrução” no Congresso, dificultando a aprovação de pautas econômicas essenciais.
- A Batalha pelo Orçamento: A relação entre o Executivo e o Congresso, especialmente com as lideranças da Câmara e do Senado (Motta e Alcolumbre), está desgastada. A disputa pelo controle das emendas parlamentares e o aumento das estimativas de receita para 2026 sem lastro claro criaram um “orçamento fictício” que pressiona a meta fiscal.
- Credibilidade Fiscal: O mercado vê com ceticismo a meta de superávit primário de 0,25% para 2026. A percepção é de que, em ano eleitoral, a âncora fiscal pode ser flexibilizada para acomodar gastos populistas, uma prática recorrente que tende a pressionar a curva de juros futura.
3. Cenário para 2026: O “Ano de Troia”
Analistas têm chamado 2026 de um “Ano de Troia” para os mercados: um período que pode trazer presentes gregos — surpresas negativas escondidas sob a aparência de normalidade.
Projeções Macroeconômicas (Consenso de Mercado – Focus/Dez 2025):
| Projeção 2026 | Tendência | |
|---|---|---|
| PIB | 1,78% – 2,00% | Desaceleração em relação a 2025. |
| IPCA (Inflação) | 4,17% – 4,20% | Convergência lenta para o centro da meta. |
| Selic (Fim do ano) | 12,00% | Queda gradual, mas juro real ainda elevado. |
| Câmbio | R$ 5,80+ | Pressão devido à incerteza eleitoral. |
O Risco Eleitoral
A eleição de 2026 promete ser extremamente polarizada. Diferente de pleitos anteriores focados em propostas, o mercado teme uma disputa focada em “sobrevivência política”, o que pode levar a:
- Aumento de Gastos: Pressão para turbinar programas sociais e obras públicas, desafiando o arcabouço fiscal.
- Paralisia de Reformas: A agenda de reformas microeconômicas deve travar completamente no Congresso.
- Volatilidade Cambial: O dólar deve servir como o principal “termômetro” do medo eleitoral, reagindo a cada pesquisa de intenção de voto.
Conclusão: Cautela e Seletividade
Para empresários e investidores, 2026 exigirá uma postura defensiva. O Brasil oferece oportunidades de carry trade (ganho com juros) atrativas globalmente, mas o risco de cauda aumentou.
A chave para navegar o próximo ano será monitorar não apenas os dados econômicos, mas a capacidade do governo de manter a governabilidade mínima diante de um Congresso hostil e de uma sociedade dividida. O risco não é uma ruptura econômica iminente, mas sim uma erosão lenta da credibilidade fiscal em nome da disputa pelo poder.
